top of page

Espaço Vivo

Aqui é uma hospedagem coletiva, onde você pode conhecer fluxos, trilhas e colaborações de outros autores e artistas. Entre e passeie por novas formas, textos e histórias. Antes de chegar nesse nome, "Espaço Vivo", passeei por outros. Caminhei por Criadoria, Imaginâncias e Espaço do Poetizar. E deixei que o movimento e a abertura para o que é Vivo. Entre e fique à vontade. Respire, relaxe e aproveite.

Atualizado: 6 de jan. de 2024




Por muitos anos, carreguei a identidade dos meus filhos na minha carteira. Tirei quando eram muito novinhos para evitar andar com certidão de nascimento. Desde então coloquei as identidades deles junto da minha, ao lado das carteirinhas do plano de saúde e do clube. Para viajar, ir ao hospital ou ao clube, eu não precisava buscar os documentos: andávamos juntos. Tive a opção e o privilégio de parar de trabalhar por um tempo e no leva e traz das atividades, eu já estava equipada. Documentos e compromissos de mãe, todos juntos e misturados.


Mas os filhos crescem. Mudam os traços das faces, tiram novas fotos e fazem novas identidades. Com isso, eu fui ficando com os documentos antigos. Era uma ida ao cinema com os amigos ou uma viagem que eles precisavam dos documentos deles, e eu ficava para trás. Mesmo assim, eu mantinha as identidades deles ao lado da minha, pois a minha cópia, bem guardada, era a salvação. Aconteceu um dia, de viajarmos e eles se esquecerem dos documentos na calça que vestiram no dia anterior.


Mas hoje eles nem as usam mais. Saem com as de motorista, que são digitais. E eu mesmo sabendo que esse dia ia chegar, me esqueci que eu teria que guardar aqueles documentos físicos, que trazia comigo há tanto tempo. Em um ano, meu filho foi morar em outro país e eu tirei o documento dele da minha carteira. No ano seguinte, a minha filha também saiu do país e o mesmo foi feito. Entre outras adaptações que tive que enfrentar com a saída deles, esse gesto de separar nossas identidades aconteceu como um ritual de passagem.


Abri minha carteira, e ali onde ficavam as três coladinhas, deixei apenas a minha. Na foto, ainda carrego os traços da mãe deles, e o coração do lado de cá, continua buscando uma nova sintonia. Guardei o documento da minha filha ao lado da do meu filho, na gaveta da mesa do escritório, onde guardo alguns documentos e tranquei. Pus as chaves na caixinha em cima do meu criado, a mesma onde estão algumas fotos.


Sem nenhum filho em casa para eu dar boa noite, eu conto com o meu coração ainda ligado neles e com o meu papel de mãe que jamais vai deixar de existir. Hoje é um novo dia e saio com a minha carteira levando apenas a minha identidade



 

Atualizado: 30 de nov. de 2023



Li recentemente que “se houver um pouco de paz em nós, haverá um lugar no mundo onde a paz existe”.


Em meio de tantas notícias avassaladoras, pensar desse jeito, é sinal de resistência e de contraponto. É uma forma de não se render e de não se deixar inundar pela onda do medo e da falta de esperança. Psicanaliticamente falando, é se posicionar de uma forma autônoma em relação a um Outro - no caso, a guerra.


A questão aqui não é estar indiferente ao sofrimento de tantas pessoas envolvidas. Se você está distante fisicamente de onde a guerra está acontecendo, o convite é para não se perder nas suas próprias projeções de medo, e por isso não conseguir fazer nada prático para ajuda. Ao conseguir se ver de fora, é possível que você tenha uma ideia concreta do que fazer. Uma ajuda em dinheiro ou se ligar a alguma instituição que lida diretamente com a situação.


Uma outra opção pode ser pelo menos cultivar um espaço de paz dentro de si. Com o cultivo de um jardim de paz, aí mesmo dentro de você, por exemplo, alguém mais pode se benefi


ciar com esta beleza. Assim, pelo menos você estará em condições de oferecer algo a mais, além do próprio desespero.



 
bottom of page