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Um Debate e um Poema - Adriano Monteiro de Paula Cavalcante


O Coxo

Catulo da Paixão Cearense

 

Certa vez

Um homem descortês

Que vendo um coxo

Passar amuletado

Chamou-lhe: sacripante,

Estúpido, ignorante, malcriado!

E o coxo, sem dar mostras de zangado

Seguia o seu caminho, paciente

Que quase nem parecia o insultado!

E seguia, e seguia, e apenas traduzia

A sua quase compaixão em um muxoxo.

Quando o homem descortês, contrariado, por ver que o insultava sempre em vão

Começou a chamá-lo: “Ó coxo, ó coxo!”

Pois o coxo, que não se molestara

Com os insultos que o homem lhe atirava,

Ficou como uma fera,

A ponto de agredi-lo com a muleta

Batendo-lhe na cara.

Somente porque o homem lhe chamara

De coxo, exatamente aquilo que ele era.

 

Nesses tempos de política rasteira e acompanhando alguns debates no YouTube, onde os candidatos xingam publicamente uns aos outros e a carapuça despenca, não tem como não se lembrar deste poema de Catulo da Paixão Cearense, que retrata a história de um deficiente que foi xingado de tudo que é nome, porém ao ser chamado de coxo, que é justamente que ele era, virou uma fera.

 
 
 

1 Comment


Guest
Aug 25, 2024

Nada como um poema para aliviar a realidade!!!

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