Um Debate e um Poema - Adriano Monteiro de Paula Cavalcante
- Johanna Homann
- 24 de ago. de 2024
- 1 min de leitura

O Coxo
Catulo da Paixão Cearense
Certa vez
Um homem descortês
Que vendo um coxo
Passar amuletado
Chamou-lhe: sacripante,
Estúpido, ignorante, malcriado!
E o coxo, sem dar mostras de zangado
Seguia o seu caminho, paciente
Que quase nem parecia o insultado!
E seguia, e seguia, e apenas traduzia
A sua quase compaixão em um muxoxo.
Quando o homem descortês, contrariado, por ver que o insultava sempre em vão
Começou a chamá-lo: “Ó coxo, ó coxo!”
Pois o coxo, que não se molestara
Com os insultos que o homem lhe atirava,
Ficou como uma fera,
A ponto de agredi-lo com a muleta
Batendo-lhe na cara.
Somente porque o homem lhe chamara
De coxo, exatamente aquilo que ele era.
Nesses tempos de política rasteira e acompanhando alguns debates no YouTube, onde os candidatos xingam publicamente uns aos outros e a carapuça despenca, não tem como não se lembrar deste poema de Catulo da Paixão Cearense, que retrata a história de um deficiente que foi xingado de tudo que é nome, porém ao ser chamado de coxo, que é justamente que ele era, virou uma fera.
Nada como um poema para aliviar a realidade!!!